Capítulo 5: O servo feliz
Certo dia, chegaram ao Céu um Marechal,
um Filósofo, um Político e umLavrador.
Um Emissário Divino recebeu-os, em
elevada esfera, a fim de ouvi-los.
O Marechal aproximou-se, reverente, e falou:
— Mensageiro do Comando Supremo, venho da Terra distante. Conquistei
muitas medalhas de mérito, venci numerosos inimigos, recebi várias
homenagens em monumentos que me honram o nome.
— Que deseja em troca de seus grandes serviços? — indagou o Enviado.
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— Quero entrar no Céu.
O Anjo respondeu sem vacilar:
— Por enquanto, não pode receber a dádiva. Soldados e adversários,
mulheres e crianças chamam-no insistentemente da Terra. Verifique o que
alegam de sua passagem pelo mundo e volte mais tarde.
O Filósofo acercou-se do preposto divino e
—Anjo do Criador Eterno, venho do acanhado círculo dos homens. Dei às
criaturas muita matéria de pensamento. Fui laureado por academias diversas.
Meu retrato figura na galeria dos dicionários terrestres.
— Que pretende pelo que fez? — perguntou o Emissário.
— Quero entrar no Céu.
— Por agora, porém — respondeu o mensageiro sem titubear —, não lhe
cabe a concessão. Muitas mentes estão trabalhando com as idéias que você
deixou no mundo e reclamam-lhe a presença, de modo a saberem separar-lhe
os caprichos pessoais da inspiração sublime. Regresse ao velho posto,
solucione seus problemas e torne oportuna-mente.
O Político tomou a palavra e acentuou:
— Ministro do Todo-Poderoso, fui administrador dos interesses públicos.
Assinei várias leis que influenciaram meu tempo. Meu nome figura em muitos
documentos oficiais.
— Que pede em compensação? — perguntou o Missionário do Alto.
— Quero entrar no Céu.
O Enviado, no entanto, respondeu, firme:
— Por enquanto, não pode ser atendido. O povo mantém opiniões
divergentes a seu respeito. Inúmeras pessoas pronunciam-lhe o nome com
amargura e esses clamores chegam até aqui. Retorne ao seu gabinete, atenda
às questões que lhe interessam a paz Íntima e volte depois.
Aproximou-se, então, o Lavrador e falou, humilde:
— Mensageiro de Nosso Pai, fui cultivador da terra... plantei o milho, o
arroz, a batata e o feijão. Ninguém me conhece, mas eu tive a glória de
conhecer as bênçãos de Deus e recebê-las, nos raios do Sol, na chuva
benfeitora, no chão abençoado, nas sementes, nas flores, nos frutos, no amor
e na ternura de meus filhinhos...
O Anjo sorriu e disse:
— Que prêmio deseja?
O Lavrador pediu, chorando de emoção:
— Se Nosso Pai permitir, desejaria voltar ao campo e continuar
trabalhando. Tenho saudades da contemplação dos milagres de cada dia... A
luz surgindo no firmamento em horas certas, a flor desabrochando por si
mesma, o pão a multiplicar-se!... Se puder, plantarei o solo novamente para ver
a grandeza divina a revelar-se no grão, transformado em dadivosa espiga...
Não aspiro a outra felicidade senão a de prosseguir aprendendo, semeando,
louvando e servindo!...
O Mensageiro Espiritual abraçou-o e exclamou, chorando igualmente, de
júbilo:
— Venha comigo! O Senhor deseja vê-lo e ouvi-lo, porque diante do Trono
Celestial apenas comparece quem procura trabalhar e servir sem recompensa.
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